Para um dos psicoterapeutas mais renomados da história, Carl Gustav Jung ou apenas Jung, um dos conflitos mais comuns entre os casais são os que ele chamou de conflitos que provêm dos vínculos parentais. De forma mais clara, são os conflitos que surgem quando os cônjuges fazem o papel de mãe/pai ou filho/filha do seu parceiro.

Na nossa cultura normalmente as mães tem a função principal de acolher, cuidar, alimentar, dar carinho e atenção. Os pais tem a função principal de orientar, dizer o que é certo e errado e cobrar o “dever antes do prazer”  dos filhos.

O normal é que todas as pessoas exerçam esses papéis com seus parentes, amigos e principalmente cônjuges, devido ao grande tempo de convívio entre estes últimos. Esses papéis são, portanto, vivenciados com intensidades variáveis, com diversas pessoas e em diversos momentos da vida.

Portanto, cuidar (fazer o papel de mãe) e orientar o parceiro (fazer o papel de pai), ou desejar ser cuidado (fazer o papel de filho da mãe) e orientado ( fazer o papel de filho do pai) pelo cônjuge é saudável e natural, porém, quando esses papéis são exercidos de forma exagerada por pelo marido, pela esposa, ou por ambos, eles tendem a gerar conflitos, por isso o nome de “conflitos provenientes dos vínculos parentais”.

Os exemplos estão todos os dias a nossa frente, e podem ser exagerados pelas 4 formas, tanto pelo marido como pela esposa, de forma ativa ou passiva, por excesso ou falta e com ou sem a apresentação de conflitos visíveis. Aqui vamos mostras apenas 4 exemplos, com foco no papel ativo, com excesso dos 4 papéis e de forma conflitiva, mas as combinações são muito mais numerosas:

1. É a esposa ou o marido que exagera no papel de mãe, cuidando do outro de forma exagerada, como se ele fosse seu filho ou filha, se preocupando a todo momento com a sua alimentação, com o seu trabalho, com o seu bem-estar, dando carinho e atenção de forma algumas vezes até sufocante…É a pessoa que liga mais do que o normal para saber se o outro está bem, se precisa de alguma coisa, se chegou bem, se está com frio, se está com calor.. se preocupa com tudo e de forma exagerada, nesse caso, portanto, tratando o parceiro de forma excessivamente maternal.
2.  É a esposa ou marido que exagera no papel de pai, que está sempre querendo orientar, cobrar tarefas e se impor ao outro, dizendo o que é certo e o que é errado. Trata o parceiro exatamente como um pai trata o seu filho(a). Cobra, exige e orienta o tempo todo como se o parceiro ainda não tivesse condições mentais de tomar as próprias decisões.
3. É a esposa ou marido que exagera no papel de filho(a) da mãe, se comportando como uma criança carente, sempre pedindo atenção e se mostrando excessivamente dependente no sentido de receber carinho, afeto e cuidados, exatamente como se comporta um filho de poucos anos de idade para a sua mãe.
4. É e também a esposa ou marido que exagera no papel de filho(a) do pai, se comportando como uma criança impulsiva e inconsequente, sempre precisando ser orientada e reforçada ou punida com seus comportamentos. É o marido que por “pura inconsequência” acaba “metendo os pés pelas mãos” e se envolvendo com outras mulheres e se diante disso age como uma criança que se comportou de forma desobediente… É o marido ou esposa que parece não ter amadurecido no sentido de saber o que é certo ou errado e costuma agir por impulso, sempre ao seu “bel prazer”, exatamente como agem as crianças que ainda precisam separar e perceber a diferença de prioridade entre o dever e o prazer.

Esses exageros podem sufocar (nos papéis de mãe/pai) e também fazer os parceiros perderem a admiração um pelo outro (no papéis de filho da mãe ou do pai). Esses comportamentos, então, acabam fazendo  ambos perderem o interesse na relação e afetando inclusive a sexualidade do casal. Pois um dos principais requisitos para uma relação sexual saudável é a admiração mútua, como homem e mulher e não mãe, pai ou filho.

É importante ressaltar, novamente, que exercer esses papéis é completamente normal , saudável  e útil para os casais pois mesmo os adultos, em alguns momentos da vida, sentem-se vulneráveis precisando se sentir cuidados e acalentados e outras vezes sentem-se um pouco perdidos, precisando se sentir orientados e guiados. Portanto, eles só geram conflitos quando vivenciados de forma exagerada e em momentos inconvenientes.

E como a terapia de casal pode ajudar?

Antes de tudo e, com base nas informações trazidas pelo casal,  auxiliando- o a perceber se os seus conflitos podem ter surgido pelo exagero nesses papéis. Nesse caso a função do terapeuta é analisar os conflitos, parte dos históricos familiares e diversas outras informações – expressas pelos parceiros de forma espontânea ou inconsciente – para identificar as formas pelas quais esses conflitos se apresentam nos conflitos do casal e as suas diferentes nuances. Munido dessas informações, o terapeuta poderá ajudar o casal a:

1. Compreender as causas principais de suas crises;
2. Ajudar os parceiros a compreenderem realmente como o outro se sente, colocando ambos, um no lugar do outro;
3. Buscar as soluções mais eficientes para reduzir a frequência das brigas e discussões;
4. Prevenir futuros desentendimentos com base nos mesmos problemas;
5. Prevenir a perda ou ajudar o casal a recuperar o interesse sexual;
6. Fortalecer a relação, prevenindo assim, novas crises.

Caso você tenha qualquer dúvida sobre a sua relação ou deseje apenas ter mais informações para poder avaliar a necessidade de ajuda terapêutica, nos envie um email ou entre em contato por telefone para que possamos te orientar, sem nenhum custo ou compromisso.

Além desses conflitos, há também os que Jung chama de “conflitos provenientes dos vínculos conjugais” e “conflitos provenientes dos vínculos cósmicos ou espirituais”, que serão publicados em breve!