Quem alguma vez já mergulhou de cabeça no amor? Quem, alguma vez, já se desapaixonou? O que significa apaixonar-se ou desapaixonar-se e quando isso acontece? É possível manter ou recuperar a paixão no casamento? Essas situações e dúvidas podem ocorrer a qualquer pessoa; o importante é saber lidar com cada uma delas, de forma a melhorar o relacionamento a cada dia e manter a relação mais forte e saudável.

Para se alcançar uma melhoria efetiva no casamento, primeiro deve-se saber quais são as diversas fases do relacionamento, para descobrir em qual dessas fases o casal se encontra e então buscar as melhores soluções para cada situação. No trabalho com maridos e esposas, durante a terapia de casais, percebe-se um certo padrão nas fases do casamento, que vão desde o momento da atração até a sua “recuperação” ou fim do relacionamento.

Estas fases são: a atração, apreciação, o hábito, a expectativa, a desilusão e o limiar. Para exemplificar de uma forma mais clara, vamos considerar o nível da satisfação dos parceiros de forma análoga a uma conta bancária, considerando seus saldos positivos ou negativos ao longo do tempo.

Durante a primeira fase, a FASE DA ATRAÇÃO há, para ambos, um saldo farto, porém ilusório na conta da relação. É a fase na qual ambos parecem ter a “certeza” de ter encontrado o amor das suas vidas.

Há também aquela impressão de que já se conheciam antes. Essa fase ocorre quando a nossa “lista de virtudes desejadas e defeitos rejeitados” parece bater perfeitamente com o ser amado. É a fase da idealização e da paixão, quando simplesmente estamos tão extasiados e envolvidos com a nossa nova paixão, que parecemos não enxergar a realidade do outro, ele não parece humano, mas sim, perfeito! O que acontece nessa fase é o seguinte: ambos os parceiros, homem e mulher, já possuem, em suas mentes, uma imagem pré-formulada da “pessoa que poderá realizar todos os seus sonhos”. Por mais que todos saibamos que a ideia do par perfeito não existe na realidade, todos nós temos esta imagem muito bem guardada em nossos inconscientes. Nestas imagens mentais, o homem ou a mulher que se procura deverá ter certas características positivas e não deverá ter certos defeitos que não toleramos. Além desta lista de virtudes e defeitos, temos também gravados em nossas mentes os comportamentos que, segundo a nossa interpretação (o que não quer dizer que é verdade), indicam a presença dessas virtudes e a ausência destes defeitos. Por exemplo, um homem pode ter aprendido ao longo de sua vida que mulheres tímidas tendem a ser mais fiéis do que as mulheres mais extrovertidas, mesmo que esta não seja exatamente a realidade dessa mulher. Da mesma forma, para outro homem, uma mulher tímida pode parecer ter pouco interesse sexual ou para outro, a timidez pode ser apenas encarada como uma simples forma  mais reservada de ser, sem atribuir significados positivos ou negativos a este comportamento. Portanto, na fase da atração ambos os parceiros tem a impressão de ter encontrado a pessoa perfeita, que poderá realizar todos os seus sonhos mais íntimos de “felicidade eterna”, pensamos o dia todo no outro e nos sentimos inclusive viciados, pois estar com ou apenas pensar no outro causa grande sensação de prazer (ocorre, no cérebro, a liberação de substâncias de prazer de forma cientificamente  comprovadas).

Caso a fase de atração perdure tempo suficiente para se transformarem um relacionamento estável, o casal vive então a segunda fase, a FASE DA APRECIAÇÃO, quando o saldo da conta da relação começa a ser revisado e verificado por ambos os parceiros, visando a sua confirmação. Nesta fase, o filtro de percepção de cada um parece comprovar, a cada dia, que outro realmente é o que se buscava em um cônjuge. Por isso o nome apreciação, porque é quando maridos e esposas passam a apreciar as virtudes do seu parceiro, confirmando ou não, a ideia que faziam dele na fase da atração. Portanto, nesta fase, mais importante é avaliar se o outro realmente é o que você está imaginando ou se apenas pensamos que ele é assim. Quanto mais próxima for a realidade do outro versus a nossa idealização, maior a probabilidade de termos um relacionamento saudável e duradouro. Porém, quanto maior a idealização, ou seja, quanto maior a distância entre o que pensamos sobre o outro e o que ele realmente é, maior probabilidade de haver conflitos na relação. Para que o casal possa manter a relação na fase da apreciação é importante que, primeiro, cada um conheça as próprias necessidades e desejos quanto ao relacionamento, assim como conheça as do outro. Segundo: ambos devem saber quais comportamentos podem satisfazer essas próprias necessidades e desejos e terceiro, devem ser capazes de suscitar esses comportamentos no outro.

Após a fase da apreciação temos a FASE DO HÁBITO, que ocorre quando o saldo parece se manter cada vez mais estável. O que antes era apreciado no outro torna-se tão familiar e comum que deixa de ser apreciado com a mesma admiração. Esta frase traz conforto e segurança. As lentes não são mais tão cor de rosa mais ou rubor ainda não desapareceu. Pode ser uma fase muito positiva desde que retorne ciclicamente à apreciação e inclua também alguns retornos à fase da atração. A satisfação nesta fase também depende do que cada um busca no casamento: se busca segurança esta fase lhe trará satisfação porém, se busca aventura, esta fase lhe causará tédio, pois os comportamentos do outro tornam-se tão previsíveis que a relação acaba por tornar-se menos estimulante. Uma dica comum dos terapeutas de casal para melhorar esta fase é criar programas inusitados que possam satisfazer os desejos de ambos os parceiros, desejos estes ainda não revelados ou novos, que poderão trazer mais novidades e excitação à relação.

Em seguida, temos a FASE DA EXPECTATIVA, que ocorre quando o saldo não torna-se apenas estável, mas começa a diminuir, não satisfazendo mais o casal. Nesta fase, o que antes era apreciado agora é esperado e por isso, o prazer vira um dever. O que antes era admirado e surpreendia agora entra na ideia do não fez mais do que a obrigação é a fase marcada pelas “queixas dos agradecimentos”, quando os filtros dos parceiros focam mais na falta do que na presença dos comportamentos positivos. Presta se mais atenção no que o outro fazia e deixou de fazer, no que o que ele de fato faz. No sexo há também expectativas muito altas seja quanto à freqüência, à duração ou ao tipo de relação sexual. O maior risco nesta fase ocorre quando os parceiros começam a desprezar ou a não dar mais valor ao que ante sera altamente valorizado. A falta de alguns comportamentos torna o outro menos amado respeitado ou desejado.

O salto da fase da expectativa para a FASE DA DESILUSÃO é muito rápido. Esta fase ocorre quando o saldo já diminuiu e já não satisfaz, mas ainda é percebido como positivo. Na fase da desilusão a falta de comportamentos antes valorizados (percebida na fase da expectativa), se acumula com a presença de comportamentos rejeitados, e deixa também passar outras ofensas. Nesta fase são comuns as queixas de que o outro adquiriu novos maus hábitos, mas quena verdade estavam presentes desde a fase da atração (eles apenas não eram percebidos ou eram tolerados). Nesta fase, presta-se mais atenção no que o parceiro não faz mais e também no que faz de errado. A falta de atendimento das necessidades e desejos pelo outro traz a sensação e em alguns casos, até a certeza de não ser amado, que se acentua ainda mais no caso de pessoas com baixa auto estima ou alto nível de carência. Essa “sensação ou certeza de não ser amado e respeitado” faz também com que se pense que o outro não é digno de ser amado ou respeitado. Durante a fase da desilusão as decepções e insatisfações começam a se acumular e maridos e esposas entram em um estado de confusão: o efeito gangorra, que mistura o medo de o relacionamento dar errado com a esperança de voltar a serem como eram antes. Apesar dos conflitos constantes, as boas lembranças do passado monte motivam ambos a manterem a relação e a lutarem por ela. Esta fase se caracteriza pela pelas constantes tentativas dos parceiros de resgatarem sentimentos do passado, por meio de visitas a lugares que já foram na época em que eram apaixonados assim como a repetição de antigos comportamentos, sempre buscando a satisfação que sentiam durante a fase em que se sentiam valorizados (fase da apreciação). A fase da desilusão é extremamente crítica, pois indica o momento em que os cônjuges ainda tem esperança de salvar o casamento (ainda que esta recuperação já passe a necessitar da ajuda de uma terapia de casai) Embora esta fase já seja realmente muito grave, a esperança é percebida pois os parceiros ainda conseguem se lembrar dos bons momentos do passado, tornando o resgate desses possível, ainda que difícil, pois apesar disso, o risco de haver uma separação definitiva já é muito alto.

A fase seguinte é a fase do LIMIAR ALCANÇADO, quando o saldo já se tornou negativo. Um ou ambos os parceiros conclui que o relacionamento acabou e não vale mais a pena lutar por ele. As boas lembranças do passado já não importam mais, pois agora o que resta são são apenas as más lembranças e as atuais experiências negativas. As lentes cor de rosa agora são cinzas, tudo é negativo passado presente e até futuro. Sabe-se até que as boas lembranças ocorreram mas já não são mais relembradas como antes. Como nesta fase tudo parece mais negativo do que positivo há uma grande desesperança em relação ao futuro e por isso a falta de motivação para tentar melhorar a relação e, consequentemente, a desistência. Pode ocorrer que apenas um parceiro entre nesta fase, causando um grande sofrimento para o outro que não deseja se separar. É a fase em que qualquer ato insignificante do parceiro que ainda não entrou no limiar se transforma em uma tempestade para o outro. Durante esta fase, as intervenções que poderiam ser realizadas durante a terapia de casal tem a sua eficiência extremamente reduzida pois, como um dos parceiros ou ambos já não tem mais esperança de salvar o relacionamento, pode ocorrer que eles sabotem inconsciente as tentativas de melhoria no tratamento. Nesta fase há a presença quase exclusiva de comportamentos negativos altamente rejeitados, ou seja, esta fase é o oposto da fase de atração, quando havia a presença quase exclusiva de comportamentos altamente valorizados.

Aqui fecha-se o ciclo: na 1ª fase, da atração, o outro era visto como alguém cheio de virtudes e praticamente desprovido de defeitos, os óculos eram cor-de-rosa e portanto as virtudes e até os defeitos eram bem vistos); na fase do limiar, a mesma pessoa torna-se alguém que parece apresentar apenas defeitos e em quem já não se enxerga mais nenhuma virtude; os óculos agora são cinzentos, onde os defeitos saltam mais aos olhos e as virtudes parecem praticamente inexistentes, mesmo que ainda estejam lá…).

E como a terapia de casais pode ajudar nesses casos? Auxiliando o casal a identificar em qual fase se encontram, avaliando as causas dos conflitos na relação e intervindo de forma proporcionar melhorias significativas na qualidade da relação, trazendo assim mais satisfação aos cônjuges e a possibilidade de terem um relacionamento mais prazeroso, saudável, forte e duradouro.