Como lidar com um marido ou esposa muito ciumento?

A emoção do ciúme é uma das causas mais comuns de conflitos e brigas entre os casais. De todas as idades, sejam  namorados, noivos ou casados; independentemente do quanto se ame, do quanto se demonstre esse amor ou de quanto tempo estão juntos, com ou sem histórico de infidelidade.

E por emoção e não sentimento? Aí é que está um dos primeiro fatores que fazem do ciúme um problema: sentimentos são conscientes e por isso podem ser avaliados pela razão e portante serem controlados: ou você acha algo (ou alguém) “bom” e gosta, ou acha algo(ou alguém) “ruim” e não gosta.  O ciúme, por sua vez, é chamado de emoção porque não está ligado à razão. Claro que, se alguém perceber uma terceira pessoa se aproximando de forma insinuante do seu marido ou esposa irá perceber de cara e sentir um certo ciúme, que é uma emoção natural ligada à ameaça e ao medo da perda, masssss a questão é que muitas vezes o ciúme surge como uma emoção inexplicável até mesmo pelo próprio parceiro que sente. Ele ou ela diz: “Eu sei que você me ama, eu sei que você demonstra, que nunca me traiu e é fiel, mas mesmo assim…. eu sinto e não sei o que fazer com isso!” . Sim, porque os pensamentos (razão) são conectados em uma parte do cérebro, e as emoções, em outra. E é por isso que as emoções são sentidas de repente, sem termos avaliado racionalmente se deveríamos ou não ter sentido aquela emoção.

O ciúmes surge de uma parte do cérebro mais primitiva, a Amígdala, que é responsável por “avisar” aos animais e aos humanos que eles estão em “perigo” e esse aviso cerebral faz com que logo se responda, ficando em estado de alerta e defesa ( por isso o ciumes costuma deixar as pessoas muito irritadas e até agressivas). A pessoa vê alguma cena ou alguma mensagem no celular por exemplo, aquele sinal de “perigo” é enviado à Amigadala e em em alguns milisegundos a pessoa sente a emoção de medo (nesse caso da ameaça de perda do parceiro) e, antes mesmo de pensar racionalmente, é praticamente dominada por essa emoção tão incômoda.

E por quê algumas pessoas são muito mais ciumentas do que outras? Por quê eu consigo controlar o meu ciúme e meu marido ou esposa simplesmente não consegue? Por quê mesmo demonstrando e assegurando todos os dias a ele ou a ela que eu o(a) amo, ele(a) continua desconfiado(a) de mim??? O que fazer?

Primeiramente deve-se compreende que o ciúme não passa necessariamente pela razão. Ele é sentido instintivamente e dependendo da sua intesidade, ele poderá ou não ser avaliado e controlado depois pela razão. Portanto, o que faz com que algumas pessoas consigam senti-lo e controlá-lo é a força da emoção sentida. Isso não significa que se alguém não demonstra ciúmes não ama o outro. Mas que para esta pessoa essa ameaça da perda não chega a mexer com um trauma e por isso ela consegue sentir , analisar o ocorrido com a razão e então perceber que está tudo bem ( ou não, e nesse caso tirar uma satisfação, mas talvez sem muito “escândalo”). Mas trauma??? Sim!

O trauma da separação, da perda, do abandono, da rejeição… que pode ter ocorrido há muitos e muitos anos atrás, por um dos pais, mais precisamente na infância ou adolescência, ou claro, em uma relação amorosa anterior.  Esse trauma pode ter sido causado porque o pai ou mãe morreu cedo, porque saiu de casa ou porque se divorciaram. Também pode ser causado por pais ou mãe que causam sensação de instabilidade na criança ou adolescente, demonstrando ou até mesmo dizendo que “vai acabar saindo de cada qualquer dia”, que “está pensando em se separar”, que “tem mesmo é vontade de largar tudo, casa e família e sumir”. Ou também por casos em que houve traição na família, por parte de um dos pais, tendo sido ou não perdoada e tendo tido ou não separação.

Mesmo que a criança ou adolescente passe por essa experiência de forma mais amena, a marca fica e, dependendo de todas as suas outras experiências de vida, esse “trauma” pode ser ou não elaborado e amenizado por outros eventos posteriores. Se for amenizado, a pessoa talvez não seja tão ciumenta.

Pode ser que a pessoa que sofreu esses traumas nem se lembre muito disso, mas isso também não significa que não sentiu, pois ela pode apenas ter bloqueado essa lembrança, que é o que muitas pessoas fazem em casos de dores muito profundas. Mas nos casos em que a memória ainda é muito viva, isso faz com que a pessoa sinta a emoção negativa do ciúme de uma forma muito mais intensa, e como mencionei, de forma inconsciente. Então mesmo dizendo “Eu sei que não tem nexo mas eu sinto ciúmes e não sei como controlar isso”! ela simplesmente sente e se incomoda…. muito.

Mas então como lidar com um marido ou esposa tão cimento?

Primeiramente, é importante assegurar sim a essa pessoa que ela é muito amada. Dizer, olhar nos olhos, pegar nos braços e fazê-la sentir que você está falando sério.

Depois você pode explicar o que aprendeu aqui a ela ( teria muito mais explicações a oferecer mas por ser um blog precisei resumir), e então perguntar se ela passou por alguma dor parecida (ver exemplos acima) em alguma época de sua vida (infância, adolescência ou relacionamentos afetivos anteriores).

Quando ela se lembrar você pode dizer a ela que provavelmente trata-se de uma trauma que talvez ela não compreenda muito bem como aconteceu e talvez nem saiba exatamente quando e de que forma, pois as experiências emocionais negativas muitas vezes acabam sendo bloqueadas , mas que podem ser reativadas sempre que acontece qualquer evento que o cérebro considera semelhante ( ex. ver o marido ou esposa conversando no whatsapp ou numa festa com um pessoa “suspeita”) .

Peça a ela para tentar se lembrar de qualquer situação parecida e que tente ligar essa experiência antiga à experiência atual, do ciúme. Assim, ela terá um pouco mais de noção da causa principal da intensidade tão inexplicável dessa terrível emoção.

Peça também para que ela (a pessoa ciumenta) procure avaliar a diferença dos dois eventos e também dos motivos que tem para acreditar no seu amor e acreditar que você está ali, sendo honesto(a) e fiel ao lado dela, não só hoje, mas durante todo o tempo que estão juntos. (Caso já tenha havido um caso de infidelidade isso será mais difícil, mas demonstre que agora você está ainda mais ciente do que sente, de que não quer mais causar sofrimento para ela e que está decidido(a) a se ser fiel para conseguirem resgatar e manter a qualidade do relacionamento).  Para isso, façam, juntos, uma lista de motivos que demonstram que o ciúmes (caso realmente não tenha tido motivo) não faz tanto sentido assim: o quanto você diz e demonstra que a ama, o fato de nunca tê-la traído, o fato de você sempre procurar ser transparente nas coisas que diz e faz, entre outras evidências racionais.

Caso ela continue sentindo muito ciúmes mesmo depois de saber disso, que , infelizmente é o mais comum, é importante sugerir a ela que faça algumas sessões de terapia com o objetivo de descobrir todas as ligações entre fatos atuais, memórias cerebrais e emoções negativas (que incluirão, inevitavelmente, o ciúme), para ela possa, ao menos, quando sentir novamente, aprender a avaliar a sua validade racionalmente de forma a conseguir controlá-lo com menos dificuldade: “Se eu senti, tive mesmo razão para sentir? Se tive razão, ok, vou tomar uma atitude.” Dessa forma, ao compreender melhor todo o mecanismo que causa o ciúme descontrolado, irracional ou até doentio, o seu marido ou esposa passará a ter capacidade de , antes de reagir com  desconfiança, raiva e/ou agressividade, avaliar racionalmente se está ou não tendo um real motivo para senti-lo.

Sentir ciúmes é natural e até saudável em certas situações, porém deve-se atentar para os que que parecem ter nenhum motivo, ou para os que passam a fugir do controle. Se quiser fazer um teste do seu ciúmes ou pedir para seu parceiro(a) fazer, clique AQUI.

E lembre-se, no caso de muitos ciúmes “sem razão aparente” um tratamento em terapia é realmente indispensável, pois por não terem conhecimentos em psicologia, nem você nem o seu parceiro(a) poderão resolver essa situação sozinhos, pois depende de um conhecimento mais aprofundado e principalmente de técnicas vivenciais específicas para identificar causas e elaborar essas experiências negativas que insistem em prejudicar a paz do seu marido ou esposa , a sua, e que acabam, consequentemente, desgastando o seu relacionamento. Não deixem de cuidar da sua relação, não permita que esses conflitos se acumulem, procurem ajuda o quanto antes! :). O ciúme é uma emoção muito comum e muito difícil de controlar quanto mais inconsciente e intensas as experiências da infância e adolescência, então não deve haver nenhum constrangimento em admitir e procurar tratamento! O que importa é a paz e a felicidade de vocês. Espero ter ajudado.

Cordialmente,

Cintia Fernandes

Psicóloga e Terapeuta de Casais e Adultos

CRP 08/23079

 

Sobre a profissional
Cintia Fernandes | Terapeuta de Casais. Psicóloga especializada em Terapia de Casais. Atendimento presencial (consultório em Curitiba) ou online. Atendimento de Casais e de Adultos Individual. Parceria com Babá (caso necessário, possuo parceria com uma babá para cuidar dos seus filhos durante a sessão, e no mesmo local do atendimento - na recepção que fica dentro do consultório, com uma caixa de brinquedos). A recepção ficará trancada e a chave ficará apenas comigo, de forma que ninguém possa entrar ou sair, garantindo assim a segurança dos seus filhos e a sua tranquilidade). Graduação em Psicologia pela PUCPR - 2005. Formação em Terapia Sistêmica de Casais – Instituto de Terapia e Centro de Estudos da Família – INTERCEF. Formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia Cognitiva - NYC Institute for Schema Therapy. Curso de Terapia de Casais – Centro de Estudos Avançados de Psicologia – CEAP. Atendimento com abordagem multidisciplinar, incluindo as duas abordagens consideradas mais eficientes para a Terapia de Casais: a Cognitivo-comportamental e a Terapia do Esquema, incluindo alguns conceitos da Teoria do Apego, da Gestalt , da Psicologia Sistêmica e da Psicologia Analítica. Idealizadora e criadora do método "MASP Choices", que associa a renomada Metodologia de Análise e Solução de Problemas - MASP a diversas teorias de Psicologia e Comunicação, permitindo assim a aplicação desta metodologia na análise e resolução de conflitos dos relacionamentos amorosos, de forma simples, prática e eficiente. Criadora do Workshop Choices - Coaching para Casais (com base no método MASP-Choices, abordando as 15 áreas de conflitos mais comuns nos relacionamentos e as estratégias para amenizá-los). Palestrante. Fique à vontade para entrar em contato!

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